O Deus
que tem prazer em nos perdoar, deseja que tenhamos também um coração
perdoador. Especialmente no contexto de nossa vida cristã, a prática
do perdão dever ser algo presente sempre quer se fizer necessário.
O QUE
É PERDÃO?
No Novo
Testamento há dois termos gregos que são traduzidos como “perdoar”;
“aphiemi”, que significa “remir ou deixar de lado”, e
“apoluo”, que significa “libertar, colocar em libertade”. Daí
surgem duas definições básicas para o termo “perdoar”; 1)
Parar de culpar alguém por alguma ofensa ou de ter ressentimento
contra o ofensor; 2) Cancelar ou anular uma dívida.
A
palavra “perdoar” nos traz à mente diversos conceitos como:
“quitar, absolver, anistiar, isentar, desculpar e eximir”.
O
ENSINO BÍBLICO SOBRE PERDÃO
O
elaborado sistema de sacrifícios do Antigo Testamento estava
diretamente vinculado à ideia de expiação e, consequentemente, de
perdão (Rm. 3:25). O apóstolo Paulo dá a entender que o perdão
divino, no Antigo testamento, estava condicionado ao futuro
ministério de Cristo. Tendo isso em mente, vejamos quais são as
bases do perdão outorgados por Deus.
O
PERDÃO DIVINO ESTÁ ALICERÇADO SOBRE A MISERICÓRDIA DE DEUS (Êx.
34:6,7). A palavra “misericórdia” vem do hebraico “hessed”
e tem seu correspondente no grego “charis”, que é traduzido por
“graça”, e significa: “o Dom imerecido de Deus”. Assim, o
perdão divino está alicerçado sobre a misericórdia, a bondade e a
veracidade de Deus. O perdão torna-se impossível se Deus não se
mostrar gracioso. E essa graciosidade divina, como é óbvio,
manifesta-se exclusivamente através de Cristo e sua palavra.
O
PERDÃO DOS PECADOS É UMA PRERROGATIVA DIVINA (Sl. 130:4; Dn. 9:9):
O perdão e encarado como um ato de graça divina, que deve ser
recebido com profundo gratidão. O pecado merece ser punida, e o
perdão é uma medida da graça e da misericórdia divina. O
recebimento desse benefício deve criar o senso de temor no coração
dos homens.
O
PERDÃO DEPENDE DIRETAMENTE DA EXPIAÇÃO DE CRISTO (I Jo. 1:9;
2:1,2). Ao aborda a questão do pecado, o apóstolo João
reafirma o valor da morte de Cristo como “expiação”, Ele afirma
que seu valor é pelo mundo inteiro, pelo pecado de todo e qualquer
homem. A missão celestial de Cristo faz dele um advogado em favor
dos pecadores. E isso assegura a plena salvação para todos quantos
nEle confiam.
O
PERDÃO DADO POR DEUS É COMPLETO (Sl. 103:12; Is. 38:17). Ele
afasta de nós os nossos pecados tanto quanto o Oriente dista do
Ocidente. Ele lança para trás de suas costas as nossas
transgressões, sem mais considerá-las. Ele apaga as transgressões
dos perdoados (Is. 43:25) e nunca mais relambra os seus pecados (Mq.
7:19).
O
PERDÃO E A MISERICÓRDIA DE DEUS
Ao nos
perdoar, Deus revela a Sua misericórdia para conosco. Não se pode
falar de perdão sem antes compreender a graça do perdão divino.
Esta graça é alcançada mediante os seguintes passos:
O
RECONHECIMENTO DA CULPA (Dn. 9.8). o reconhecimento do pecado
cometido é a condição indispensável para se experimentar a graça
do perdão. Precisamos tomar cuidado com a tentação de se ignorar
ou transferir para outros a nossa culpa.
ARREPENDIMENTO
E CONFISSÃO (Sl. 51.1-4). O reconhecimento da culpa abre caminho
para o arrependimento interior e a confissão exterior. Davi descreve
também no Salmo 32.1-5 a sua experiência de arrependimento e
confissão. É preciso reconhecer o perdão, arrepender-se e
confessá-lo ao Senhor.
O
ABANDONO DO ERRO (Pv. 28.13). É preciso entender, que o
recebimento do perdão, da graça misericordiosa de Deus, inclui não
apenas o abandono do mesmo. Segundo as palavras do próprio Senhor, o
perdão e as bênçãos dele decorrentes estão condicionados ao
abandono dos “maus caminhos.”
OS
MOTIVOS PARA COMPARTILHAR O PERDÃO
Visto que Deus perdoa gratuita e abundantemente, os cristãos
deveriam fazer o mesmo. A Palavra de Deus oferece algumas razões
pelas quais devemos compartilhar esta graça, perdoando aqueles que
nos ofendem.
POR CAUSA DO EXEMPLO DADO PELO SENHOR (Rf. 4:32; Cl. 3:13).
Como convém à nova qualidade de vida em Cristo, o cristão deve
procurar ser amável, com uma disposição compassiva e perdoadora,
que é baseada no fato simples, mas surpreendente, de que esta é a
atitude que lhe foi demonstrada no perdão de Deus, oferecido “em
Cristo”. Assim, o perdão de Cristo é tanto o modelo como motivo
para perdoarmos àqueles que nos ofenderam. Se esse espírito de
perdão pudesse ser conduzido a todos os lares, o egoísmo, a
desconfiança e o rancor que destroem tantas famílias seriam
eliminados e os homens viveriam em paz.
POR CAUSA DOS RESULTADOS QUE PROPORCIONA (Mt. 18:23-35). A
parábola do servo desapiedado serve bem para tornar claros a
natureza e o princípio de perdão. Ela contrasta enorme divida do
homem para com Deus com a insignificância do que tendemos a
considerar como os débitos dos outros para conosco. A incapacidade
de perdoar demonstra falta de aceitação do princípio do perdão,
gerando com isso, em nossos corações, os sentimentos de frustração,
raiva e, consequentemente, vingança. Dessa forma entendemos que
nosso bem-estar espiritual e emocional depende da disposição de
perdoarmos àqueles que nos magoaram (os nossos devedores).
POR CAUSA DA CONDIÇÃO IMPOSTA PELO SENHOR (Mt. 6:14,15).
Jesus liga o fato de sermos perdoados quando perdoamos. O perdão ao
próximo não confere, porém, mérito para merecer o perdão de
Deus. Mas, de acordo com Jesus, a pessoa precisar estar disposta a
perdoar a fim de que seja capaz de receber o perdão. Não que Deus
não esteja disposto a perdoar aquele que não perdoa, mas a condição
da pessoa que não perdoa é tal que ela é incapas de receber
perdão.
OS
LIMITES DO PERDÃO
Perdão
é reconciliação e diz respeito ao cristão, da mesma forma como a
Cristo, e não conhece limites (II Co. 5.18-20). Partindo do fato de
que o perdão é uma graça que desconhece limites, busquemos
compreender a:
INTENSIDADE
DO PERDÃO (Mt. 18.21,22). O Apóstolo Pedro estave preocupado
com os limtes do perdão, quando perguntou: “Eu preciso perdoar
sempre? Jesus respondeu a esta pergunta mostrando a ilimitada
misericórdia de Deus para com os pecadores. Quantas vezes devemos
perdoar? Jesus ensinou que o espírito de perdão vai muito além dos
mesquinhos cálculos humanos. A preocupação deve ser quanto ao
número de vezes. Sempre que houver arrependimento deve haver perdão
(Lc. 17:3,4).
DIMENSÃO
DO PERDÃO (Mt. 6.12). A quem devemos perdoar? Qual a dimensão
do perdão? A oração do Pai Nosso nos ensina que deve se entender
“a todos os nossos devedores”. Isto indica que o perdão, a
prática do perdão não pode ser restrita; a sua extensão é
ilimitada.
GRAVIDADE
DO PERDÃO (lC. 23:34; Atos 7:58-60). O que devemos perdoar? Será
que existem faltas mas amenas que devem ser perdoadas e outras mas
graves, as quais é impossível perdoar? Ainda que, na prática,
muitos demonstrem que sim, a verdade é que, à luz da Palavra de
Deus, nunca devemos deixar de perdoar. A atitude de Jesus e de
Estevão diante de seus executores comprovam isto.
Não
encontramos na Escritura apoio para ficar devendo perdão, pois, além
de constrangedor, e anti-bíblico, é anti-cristão. O apóstolo
Paulo recomenda: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o
amor” (Rm. 13.8)